domingo, 23 de junho de 2024

Meditação

Viajar de moto tem sido meu principal escape. Não interessa tanto para onde ir, mas apenas a estrada, os caminhos, o percurso.

Neste sábado minha lindinha estaria de plantão, então, se eu quisesse passear, teria de ser mais um dos passeios solo. Ela também estava recuperando de uma virose e eu mesmo tinha andado tendo umas crises de dor na coluna. Alguma coisa de postura que de vez em quando me ataca mesmo.

Apesar disso, acordei bem. Tinha deixado as baterias das câmeras carregando na véspera, só para garantir mesmo. Não tracei rota alguma para o GPS, mas tinhas algumas direções em mente. Coloquei a roupa de viagem e desci com os baús da moto. O dia, como tem sido nesta época, estava maravilhoso, sem nuvem alguma e ameno. Até um pouco frio pela manhã. Do jeito que mais gosto. Não era um dia para ficar em casa mesmo. O tanque, já estava cheio: um convite.

Saí com a Ténéré e peguei a BR-265 no sentido Barroso. A estrada simples, porém com acostamento, está bem mantida. Não havia muito movimento no trecho que peguei.

Em Barroso, peguei a estrada para Dores de Campos e segui pelo traçado sinuoso, com subidas e descidas. Quando cheguei à pequena cidade, aproveitei para parar no centro, onde estava havendo uma feira. Parei em frente à Igreja de Nossa Senhora das Dores e tirei uma foto para um colega de trabalho dorense.

De Dores, segui rumo a Prados, que era uma de minhas ideias de lugares ou direções para seguir (em momento algum me passou pela cabeça a palavra "destino"). O trecho da estrada entre Dores de Campos e Prados está horrível. O asfalto original sumiu em meio a inúmeras camadas de remendos de diversas épocas. Difícil acreditar, pois parece que seria muito mais fácil passar uma camada contínua de asfalto na estrada toda do que montar aquele verdadeiro quebra-cabeças de materiais para remendos. Ainda bem que a Ténéré é uma moto alta e de uso misto. Depois da rotatória de acesso à antiga estação de Prados, a qual já visitamos uma vez, o piso da estrada melhorou um pouco. De qualquer forma, como eu não estava com pressa de jeito nenhum (quanto mais rápido se anda, mais rápido o passeio acaba... kkk), curtia cada tipo de estrada diferente e em condições diversas pelas quais passava.

Chegando em Prados, pensei em procurar um local para comer alguma coisa. O centrinho estava bem movimentado e me lembrei que, naquela pequena cidade, pouco tinha andado. Parece que Prados sempre foi uma cidade pela qual passamos, mas só paramos realmente uma única vez, faz tempo, buscando carimbos da Estrada Real. Como sempre dou uma olhada em mapas das cidades (é um passatempo que tenho), lembrei-me que uma das ruas à esquerda daria acesso a uma parte com arquitetura colonial. Encontrei uma rua bastante estreita (acho que mais parecia uma viela) e muito íngreme. Como imaginava, saí em um pequeno platô na colina, onde foi construída a bela Matriz de Nossa Senhora da Conceição. A cidade tem várias partes bonitas que já conhecia, principalmente a parte antiga que acompanha a estrada e o pequeno córrego central. Mas foi muito interessante explorar esta parte alta (e histórica da cidade). Minas Gerais realmente tem grandes tesouros. Pena que é um estado que tem sido tão mal administrado nas últimas décadas. Depois da visita, segui a estrada na direção noroeste, contornando a maravilhosa Serra de São José.

Buscando a saída para a MG-383, lembrei-me de uma pequena igrejinha, pela qual sempre passávamos quando rodamos por aquela estrada de Prados. Sabia que ela ficava já bem próximo ao trevo com a 383 e, quando a vi, dei uma paradinha para algumas fotos. Bem legal a vista, já que é um lugar alto e até bem ermo.

Quando cheguei ao trevo, poderia seguir para Resende Costa ou Lagoa Dourada, no sentido Belo Horizonte, ou voltar no sentido São João del-Rei. Não estava muito a fim de atravessar São João para o retorno, mas ao mesmo tempo ir direto a Resende ou a Lagoa, cidades que visitamos já com uma boa frequência, não fazia tanto sentido também. Mas aí lembrei-me também de Coronel Xavier Chaves, uma pequena cidade cujo trevo de acesso não ficava muito longe dalí, seguindo pela 383 na direção de São João del-Rei e que tínhamos visitado apenas uma vez (coincidentemente, no mesmo dia em que fomos à antiga estação de Prados). Era para lá que eu iria.

O dia continuou muito bonito e a MG-383 estava até que bem movimentada. Depois do trevo, foram poucos quilômetros percorridos na estrada de acesso a Coronel Xavier Chaves e, em pouco tempo, já estava no centro da cidade. Revisitei a igreja de pedra (Nossa Senhora do Rosário), a bonita praça central e, dessa vez, parei próximo à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que aparenta ser a matriz do local.

Dali, teria que pensar no retorno. Resolvi voltar à 383, mas ainda desanimado de atravessar São João. Decidi tomar o rumo nordeste e ir em direção a Lagoa Dourada. Lá, poderia fazer uma parada e ainda trazer uns rocamboles para o pessoal de Barbacena. Chegando no Legítimo Rocambole, fiz um bom lanche e peguei as preciosas encomendas. O tempo foi ficando meio nublado, do nada.

O retorno de Lagoa Dourada, acessando a BR-040 através de Carandaí, é já um percurso muito conhecido, mas sempre prazeroso, com belas vistas. Como de costume, passei por Bandeirinhas e Arame, atravessei Carandaí e logo já estava retornando pela rodovia principal.

Mais um passeio de refazimento e desconexão com a rotina do dia a dia. Acaba sendo como uma meditação: esquece-se do passado e futuro, focando-se totalmente no presente e na experiência sensorial que ele proporciona.

Mas, ao contrário da meditação do pensamento, essa te leva para lugares reais, concretos e... incríveis.




















Nenhum comentário:

Postar um comentário