Neste final de semana acontece o XXXII Bike Fest Tiradentes. Ficamos sabendo há algumas semanas e por isso resolvemos tentar ir. Cheguei a avisar o Samuel e o Thiago e também o pessoal do grupo de moto do Whatsapp. É um evento geralmente bem organizado e muito lotado. Por isso, a organização pede que os participantes façam uma inscrição gratuita através da internet para terem acesso aos estandes do evento.
Acabou que o pessoal estava bastante enrolado nesse final de semana. Mesmo o pessoal do grupo estava com programações diferentes para ir ao evento. Além disso, na sexta-feira apareceu uma oportunidade de trabalho com fotografia para a Rochelli em uma festa no sábado, justamente o dia em que estávamos pensando em ir a Tiradentes, por ser a folga dela. Bem, como todos os arranjos estavam indo por água abaixo, olhei para a minha própria programação. Como passear de moto me faz bem, ir sozinho a Tiradentes e dar uma olhada no encontro por lá é muito melhor do que ficar em casa jogando alguma coisa ou adiantando trabalho. Os trabalhos de áudio estavam na fase inicial (envio das amostras) e já tinha vencido as provas e recuperações da escola, viajar de moto estava na jogada, ainda mais que, no ano anterior, não aproveitei nada direito.
Encontros de moto não são o meu tipo de passeio favorito. Muito porque geralmente são muito parecidos e aí você acaba visitando um monte de cidades, mas vendo basicamente as mesmas coisas: motos, anéis, caveiras, camisas pretas com estampa engraçada, etc. É claro que os encontros dão uma boa estrutura de alimentação e banheiros em pequenas cidades que geralmente não contam com isso de maneira acessível e pública. O que eu gosto mesmo é da estrada, dos caminhos e da simplicidade das pequenas cidades, com suas pequenas vendas, lanchonetes e praças. É o inesperado também, de encontrar um bom lugar para comer, um parque ou uma praça diferentes e, claro, curtir as mais diversas estradas com serras, vales, campos, matas...
O Bike Fest Tiradentes, contudo, é diferente. Tem o lado negativo de ser absurdamente lotado e elitista. Tudo muito caro, como tudo em Tiradentes atualmente. Mas tem o lado bom de contar com uma estrutura muito diferenciada dos encontros "normais" e grandes estandes com a nata dos lançamentos das principais marcas. Além disso, tem praças de alimentação com muita coisa diferente e lojas de roupas e acessórios muito acima do padrão.
Tinha a ideia de ir mais cedo e até mesmo fazer um piquenique com a Rochelli até que o evento dos estandes começasse, às 11h. Mas, como iria sozinho, levei só uns biscoitos para servir de lanche caso precisasse.
Na moto, uma novidade: finalmente consegui adaptar o bastão da GoPro no baú central da Ténéré. Não ficou lá muito bonito, mas com certeza firme e funcional. Iria tentar gravar uma partes da viagem com a câmera posicionada lá atrás e, depois, fazer algum ajuste necessário.
Saí por volta das 9h pegando a BR-265. O dia estava muito bom. Seco e com sol entre algumas nuvens. Temperatura bem amena, quase friozinho. Como esperado, muitas motos pelo caminho. A estrada já é conhecida e recentemente visitada, então não merece grandes comentários aqui. A única observação é que, um pouco depois de Barroso o trânsito estava muito parado: sinal de acidente e grave. As motos conseguiam ir passando as grandes filas e em pouco tempo cheguei ao local. Uma batida de uma carreta com um pequeno carro, que praticamente desapareceu na frente do caminhão. Imaginei logo que era um acidente provavelmente com vítima fatal (o que confirmei através dos jornais quando cheguei em casa). Parecia ser um daqueles acidentes causados por alta velocidade e ultrapassagem proibida, mas pode ter tido outras causas.
Chegando em Tiradentes, já era possível ver a grande aglomeração que seria logo na entrada da cidade. Muitas motos se dirigiam ao centro histórico. Consegui parar a Ténéré ao lado de outras motos em um ponto próximo à rodoviária, que tinha se transformado na seção de manutenção e peças do evento. Saí, dei uma rodada pela praça principal, já bem cheia, e com mais gente chegando incessantemente. Como não estava ainda na hora da abertura dos estandes principais, localizados no hotel Santíssimo, voltei para a região da manutenção perto de onde estava parada a Ténéré. Para meu espanto, pessoas de controle do trânsito não estavam deixando ninguém mais parar onde eu havia parado. Normalmente é um local realmente proibido (existe uma placa), mas nesses eventos, com o impedimento do trânsito e a permissão para um grande número de motos, acaba que todo mundo para em um monte de lugares normalmente restritos ou proibidos. Não gosto de dar bobeira, claro. Observei durante um tempo e vi que colocaram cones e faixas bem ao lado da minha moto e não encrencaram com quem (como eu), já estava parado ali. Bom então. Fiquei mais tranquilo. Aproveitei para me sentar e pedir um ótimo hamburguer artesanal na praça de alimentação montada ao lado da seção de manutenção. Os preços não estavam tão caros por ali e o hambúrguer estava ótimo.
Depois das 11h, voltei ao Santíssimo para dar uma olhada nos estandes principais das montadoras. Muitas filas na entrada e um verdadeiro "mar de gente". Mas a organização era boa e as filas estavam em movimento constante. Deu para entrar em pouco tempo e ver tudo com calma. Muitas motos diferentes. Grandes marcas: BMW, Harley-Davidson, Ducati, Honda, KTM, Royal Enfield... Parece que a Yamaha nunca está presente (não estava da outra vez em que fomos). A estrutura do evento realmente é invejável: estandes impecáveis, lojas de acessórios, ótima praça de alimentação, palco não apenas para shows, mas também para palestras sobre pilotagem e segurança, além de bons banheiros. Apesar da grande lotação, dava para andar e ver tudo.
Após ter ficado pelo tempo que achei suficiente, saí do local dos estandes e, ao retornar para a moto, ainda parei para tomar calmamente um açaí. Realmente fui a uma cidade que estava bem agitada pelo evento, mas eu havia tirado o dia para mim, como sempre, para andar de moto e curtir. Assim, o bom era manter o ritmo desacelerado (até para contrastar com a rotina do dia a dia).
Já na parte da tarde, era hora de voltar. Peguei a Ténéré, cuja vaga foi ocupada quase que instantaneamente logo que saí, por um motociclista que já havia perguntado se eu estava de saída, e tomei o rumo de casa. Fiz ainda mais alguns testes com os posicionamentos de câmera e tirei algumas conclusões de possíveis melhorias nos ângulos.
O retorno foi bem tranquilo, ainda cruzando com muitos motocilistas indo para o encontro e logo imaginei que a cidade ficaria ainda mais entupida até à noite. O local em que houve o acidente já estava limpo dos destroços, com o grande caminhão encostado ao lado da via. Uma grande mancha de óleo ainda ocupava toda faixa por onde eu passaria, o que me fez desviar pela contramão, com a segurança de não ter ninguém vindo, e evitar o piso possivelmente escorregadio.
Cheguei em casa tranquilo, descarreguei a moto e tomei um bom banho. Tudo isso faz parte da "terapia" de se pegar uma estrada. Bom conseguir se manter em um estado mental de tranquilidade mesmo diante do frenesi do encontro de Tiradentes. Um ótimo encontro, por sinal, mas que acaba não tendo muito a cara de quem, como eu, busca mais sossego e simplicidade.
Viajar de moto tem sido meu principal escape. Não interessa tanto para onde ir, mas apenas a estrada, os caminhos, o percurso.
Neste sábado minha lindinha estaria de plantão, então, se eu quisesse passear, teria de ser mais um dos passeios solo. Ela também estava recuperando de uma virose e eu mesmo tinha andado tendo umas crises de dor na coluna. Alguma coisa de postura que de vez em quando me ataca mesmo.
Apesar disso, acordei bem. Tinha deixado as baterias das câmeras carregando na véspera, só para garantir mesmo. Não tracei rota alguma para o GPS, mas tinhas algumas direções em mente. Coloquei a roupa de viagem e desci com os baús da moto. O dia, como tem sido nesta época, estava maravilhoso, sem nuvem alguma e ameno. Até um pouco frio pela manhã. Do jeito que mais gosto. Não era um dia para ficar em casa mesmo. O tanque, já estava cheio: um convite.
Saí com a Ténéré e peguei a BR-265 no sentido Barroso. A estrada simples, porém com acostamento, está bem mantida. Não havia muito movimento no trecho que peguei.
Em Barroso, peguei a estrada para Dores de Campos e segui pelo traçado sinuoso, com subidas e descidas. Quando cheguei à pequena cidade, aproveitei para parar no centro, onde estava havendo uma feira. Parei em frente à Igreja de Nossa Senhora das Dores e tirei uma foto para um colega de trabalho dorense.
De Dores, segui rumo a Prados, que era uma de minhas ideias de lugares ou direções para seguir (em momento algum me passou pela cabeça a palavra "destino"). O trecho da estrada entre Dores de Campos e Prados está horrível. O asfalto original sumiu em meio a inúmeras camadas de remendos de diversas épocas. Difícil acreditar, pois parece que seria muito mais fácil passar uma camada contínua de asfalto na estrada toda do que montar aquele verdadeiro quebra-cabeças de materiais para remendos. Ainda bem que a Ténéré é uma moto alta e de uso misto. Depois da rotatória de acesso à antiga estação de Prados, a qual já visitamos uma vez, o piso da estrada melhorou um pouco. De qualquer forma, como eu não estava com pressa de jeito nenhum (quanto mais rápido se anda, mais rápido o passeio acaba... kkk), curtia cada tipo de estrada diferente e em condições diversas pelas quais passava.
Chegando em Prados, pensei em procurar um local para comer alguma coisa. O centrinho estava bem movimentado e me lembrei que, naquela pequena cidade, pouco tinha andado. Parece que Prados sempre foi uma cidade pela qual passamos, mas só paramos realmente uma única vez, faz tempo, buscando carimbos da Estrada Real. Como sempre dou uma olhada em mapas das cidades (é um passatempo que tenho), lembrei-me que uma das ruas à esquerda daria acesso a uma parte com arquitetura colonial. Encontrei uma rua bastante estreita (acho que mais parecia uma viela) e muito íngreme. Como imaginava, saí em um pequeno platô na colina, onde foi construída a bela Matriz de Nossa Senhora da Conceição. A cidade tem várias partes bonitas que já conhecia, principalmente a parte antiga que acompanha a estrada e o pequeno córrego central. Mas foi muito interessante explorar esta parte alta (e histórica da cidade). Minas Gerais realmente tem grandes tesouros. Pena que é um estado que tem sido tão mal administrado nas últimas décadas. Depois da visita, segui a estrada na direção noroeste, contornando a maravilhosa Serra de São José.
Buscando a saída para a MG-383, lembrei-me de uma pequena igrejinha, pela qual sempre passávamos quando rodamos por aquela estrada de Prados. Sabia que ela ficava já bem próximo ao trevo com a 383 e, quando a vi, dei uma paradinha para algumas fotos. Bem legal a vista, já que é um lugar alto e até bem ermo.
Quando cheguei ao trevo, poderia seguir para Resende Costa ou Lagoa Dourada, no sentido Belo Horizonte, ou voltar no sentido São João del-Rei. Não estava muito a fim de atravessar São João para o retorno, mas ao mesmo tempo ir direto a Resende ou a Lagoa, cidades que visitamos já com uma boa frequência, não fazia tanto sentido também. Mas aí lembrei-me também de Coronel Xavier Chaves, uma pequena cidade cujo trevo de acesso não ficava muito longe dalí, seguindo pela 383 na direção de São João del-Rei e que tínhamos visitado apenas uma vez (coincidentemente, no mesmo dia em que fomos à antiga estação de Prados). Era para lá que eu iria.
O dia continuou muito bonito e a MG-383 estava até que bem movimentada. Depois do trevo, foram poucos quilômetros percorridos na estrada de acesso a Coronel Xavier Chaves e, em pouco tempo, já estava no centro da cidade. Revisitei a igreja de pedra (Nossa Senhora do Rosário), a bonita praça central e, dessa vez, parei próximo à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que aparenta ser a matriz do local.
Dali, teria que pensar no retorno. Resolvi voltar à 383, mas ainda desanimado de atravessar São João. Decidi tomar o rumo nordeste e ir em direção a Lagoa Dourada. Lá, poderia fazer uma parada e ainda trazer uns rocamboles para o pessoal de Barbacena. Chegando no Legítimo Rocambole, fiz um bom lanche e peguei as preciosas encomendas. O tempo foi ficando meio nublado, do nada.
O retorno de Lagoa Dourada, acessando a BR-040 através de Carandaí, é já um percurso muito conhecido, mas sempre prazeroso, com belas vistas. Como de costume, passei por Bandeirinhas e Arame, atravessei Carandaí e logo já estava retornando pela rodovia principal.
Mais um passeio de refazimento e desconexão com a rotina do dia a dia. Acaba sendo como uma meditação: esquece-se do passado e futuro, focando-se totalmente no presente e na experiência sensorial que ele proporciona.
Mas, ao contrário da meditação do pensamento, essa te leva para lugares reais, concretos e... incríveis.