Apesar do tempo ter apagado da memória todos os detalhes daquele dia, lembro que, talvez há mais de 20 anos, passei de carro com meu pai pela estrada de Belo Vale. Era um evento da empresa ferroviária onde ele trabalha e fui, de companhia e aproveitando para conhecer uma nova cidade. Lembro-me muito pouco do evento e do dia em si. Apenas que visitamos o Museu do Escravo e da... estrada. Fiquei então impressionado com a descida da serra que aquilo me marcou bastante. Logo eu, que vivi a vida inteira em Barbacena, bem no meio da Mantiqueira. Mas nunca havia visto nada igual.
Por anos essa lembrança ficou na minha cabeça e Belo Vale sempre esteve ali, nos destinos possíveis.
Bem, essa sexta-feira era o dia. Teria que ver aquela estrada novamente, agora de motocicleta (o que é bem melhor, kkkk).
Mais uma viagem solo de sexta, aproveitei para sair bem cedo, por volta das 7h. Ainda teria que abastecer em um posto que era no sentido oposto ao caminho que eu deveria tomar. Estou tentando manter o abastecimento em um único posto, diferente do outro com o qual tive problemas com a gasolina.
O dia estava nublado e bem frio pela manhã, razão pela qual coloquei a proteção de chuva em minha jaqueta (ela tem algumas ventilações impossíveis de vedar - ótima no verão, complicada no inverno).
O plano era pegar a BR-040 no sentido norte até pouco depois de Congonhas, onde entraria no trevo da MG-442 para Belo Vale, a estrada da famosa serra. A 040 estava bem movimentada, principalmente no trecho entre Conselheiro Lafaiete e Congonhas. Acho que sempre é assim. Cheguei a dar uma paradinha no Hotel e Restaurante Cupim, ainda em Cristiano Otoni e outrora famoso, mas hoje visivelmente decaído.
Depois de Congonhas, já com aquela terra avermelhada emoldurando a estrada, cheguei no trevo e peguei a rodovia mineira, simples, mas com bom pavimento. A partir daí foi só subida, subida... Até atingir a altitude de 1.500 metros! Verifiquei no GPS. 1.500 metros mesmo. Isso porque, em pouquíssimos quilômetros teria que descer para em torno de 700, 800 metros, altitude de Belo Vale. Impressionante.
Ainda na subida, a estrada estava com obras, obrigando todo mundo a passar por um desvio muito empoeirado. A terra estava fofa, deixando bem escorregadio. Como estava bem devagar e com pneus bons, foi tranquilo. Passando por muitas atividades de mineração, cheguei ao topo já olhando aqui e ali, para os lados, o quão alto estava. Agora, a descida... É inacreditável como a estrada é íngreme, com umas boas curvas do tipo ferradura mesmo, daquelas que a gente tem que contornar quase parando. As vistas, perfeitas. À esta altura, o dia já tinha clareado bastante, com o sol vencendo as camadas finas de nuvens. Lá em baixo, mais nuvens, a névoa da manhã persistia em vários pontos. Nenhuma foto ou vídeo pode reproduzir, nem a inclinação, nem a altura, nem as cores daqueles lugares.
Após descer o verdadeiro paredão, percorri mais alguns quilômetros até a área urbana. Chega-se ao centro histórico da cidade atravessando-se o Rio Paraopeba, através de uma ponte muito interessante, em dois níveis, por sobre o rio e a ferrovia, que corta Belo Vale. Várias lembranças voltaram a minha cabeça, inclusive a dessa ponte. Contornei o quarteirão da igreja principal e parei na sua lateral esquerda, muito próximo à entrada do Museu do Escravo. Uma excursão escolar estava visitando o museu, mas a visita estava se encerrando e vi que seria bem legal voltar àquele local. Conforme fui informado, a entrada exigia o pagamento de R$5,00 e era obrigatório o uso de máscaras. Não foi problema. Fiz uma visita guiada, porém rápida, em que fui conversando com a guia sobre as peças mais interessantes. Muito rico o acervo deste museu. E muito triste também, por todo o peso da escravidão que a história traz. Mas é importante que espaços assim existam, principalmente para que as novas gerações sempre sejam lembradas das atrocidades do passado. Desculpem. Papo de professor de História, kkkk.
Busquei algum lugar legal para comer (não havia nem tomado café pela manhã), mas não encontrei nada do meu agrado na pequena cidade. E olhe que não sou nada exigente. O problema é que havia restaurantes (estava cedo ainda para almoçar) e supermercados (se fosse para comer algum biscoito industrializado, comeria o que eu havia levado, na moto). Então, resolvi ficar um pequeno tempo na cidade após a visita ao museu e retornar quando a fome começasse a bater. Certamente encontraria uma parada legal no retorno. Já me lembrava de uma perto de Congonhas, próxima ao acesso para o Parque da Cachoeira.
E assim foi. Aproveitei cada minuto da subida da serra. Mesmo eu, que não gosto de alturas, achei incrível cada metro daquela subida. Do outro lado, passei mais uma vez no desvio poeirento e, em pouco tempo já estava na Churrascaria Beija-Flor, o lugar que eu lembrava que era legal (e realmente era).
Este passeio trouxe, além dos benefícios usuais de andar de moto por aí, ótimas lembranças e visões incríveis. Que experiência!
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