Com a tal da Semana de Outubro se aproximando (um feriadão artificial cuja criação sempre critiquei), começamos a considerar a hipótese fazer uma viagem grande de moto. O orçamento bastante apertado neste mês nos fez definir o único destino distante possível: Guarapari. Poderíamos ficar no apartamento dos meus pais e administrar os gastos, o que tornaria a viagem financeiramente viável para nós. A distância, de cerca de 480 Km, era enorme para nossos padrões. O plano, no entanto, dependeria de alguns arranjos de agenda e confirmação da folga que teríamos na tal semana.
Tudo visto e resolvido, comecei a verificar as rotas e a preparação a ser feita. Precisaria trocar o óleo da Ténéré e seria também muito bom realizar a troca do pneu dianteiro (já praticamente no TWI). Aproveitei a semana que antecedia a viagem para ir a um torneiro e trocar dois afastadores dos protetores de punho, que já estavam bastante enferrujados. Os protetores, comprados no Mercado Livre, são muito bons, mas os afastadores foram confeccionados em material de baixa qualidade.

Minha lindinha trabalharia como fotógrafa em um casamento no sábado, véspera da viagem, o que certamente determinaria nosso horário de saída. Abasteci completamente a moto com gasolina aditivada, calibrei os pneus e apertei a suspensão traseira ao máximo, considerando todo o peso que carregaríamos. Por sorte, o evento do trabalho da Rochelli terminou cedo no sábado e assim pudemos terminar de arrumar os baús e acertarmos nossa saída para as 6h da manhã de domingo. Por azar, minha noite foi péssima. Dormi muito pouco com crises de tosse e refluxo. Parecia que alguma virose estava vindo para ficar, o que não era nada bom, considerando as muitas horas de viagem que teríamos pela frente.
DIA 1 - DOMINGO

A viagem transcorreu de forma bem tranquila. Conhecíamos todo o trecho até pouco depois de Rio Pomba. Depois, foi seguir o GPS e ficar atento a todos os detalhes, inclusive os muito radares instalados ao longo da estrada. As condições dos asfaltos eram boas. As estradas simples, porém decentes. A Ténéré estava bem pesadona, mas o ajuste de suspensão foi perfeitamente adequado, deixando a moto com ótimo comportamento, apesar de toda carga.
Chegando em Leopoldina, desviamos brevemente do caminho visando o ponto de encontro combinado com o Tio Célio: o posto da Polícia Rodoviária Federal. E, como estávamos um pouco adiantados em relação à previsão de horário que demos a ele, resolvemos fazer uma breve parada em uma boa lanchonete à beira da estrada para tomarmos um café. Descansados, prosseguimos e encontramos o Tio Célio com sua Transalp no posto da PRF, conforme combinado. Um gás a mais e um apoio precioso para nós nesta viagem. Seguimos, agora pela BR-116 até Muriaé.

A partir daí, a estrada ficou péssima. Obras de duplicação até Apiacá deixaram o piso com aqueles sulcos profundos, de corte no asfalto, muito perigosos para motocicletas. Apesar da instabilidade, passamos Apiacá e Ponte do Itabapoana, alcançando a BR-101, onde fizemos outra parada (esta um pouco mais demorada) na lanchonete que se situa no trevo de acesso à rodovia.
Após a parada, era trafegar pela 101, uma estrada com bom piso, atualmente privatizada, mas sem duplicação e com movimento intenso, inclusive de caminhões. O plano original seria seguir seu traçado até a saída para Piúma, alcançando, finalmente, o litoral do Espírito Santo. Tio Célio sugeriu que pegássemos a saída para Marataízes, bem anterior, e rodássemos mais pelas estradas litorâneas. Isso nos daria a chance de conhecermos Marataízes, Itaoca e Itaipava, além das praias de Piúma, Anchieta e Meaípe, pelas quais já passaríamos antes de alcançar nosso destino final. Topamos na hora. Ao deixar a 101 pegamos a estrada de acesso a Marataízes. Depois de uns quilômetros, uma grande ventania deixou nossa viagem lenta. Balançava muito as motos. Parece que, por estarmos muito pesados, sofremos menos do que o Tio Célio.


Não estávamos tão cansados quanto imaginamos que estaríamos ao chegar. Abrimos o apartamento todo para ventilar e saímos para o supermercado, para comprar coisas básicas. Neste dia, ainda demoramos a dormir, empolgados que ficamos por tudo o que vivemos.
DIA 2 - SEGUNDA-FEIRA
Após uma noite de sono (não tão boa para mim, pois comecei a ter uma tosse insistente), tomamos café e nos preparamos para pegar uma praia. Neste primeiro dia por lá, ficaríamos na Praia do Morro mesmo, evitando sair de moto, para termos um descanso de toda a viagem. Não tivemos notícias do Tio Célio.
A praia estava ótima. Nem muito cheia e nem completamente vazia. Curtimos bastante. Voltamos ao apartamento para tomarmos banho e depois saímos para almoçar, num restaurante simples, mas muito bom e bem perto de onde estávamos. À tarde, caminhamos pela praia e aproveitamos o comércio e o movimento local.
À noite, o Tio Célio nos avisou que estava negociando um guincho diretamente de Juiz de Fora, para retornar com a moto nos próximos dias, provavelmente na quarta-feira. Decidi que no dia seguinte, pegaria a moto novamente para ter com ele em Itaoca, antes do retorno dele para Minas Gerais. A Rochelli concordou e assim combinamos: mais um dia de estrada.
DIA 3 - TERÇA-FEIRA
No dia seguinte, tomamos café, pegamos algumas coisas e saímos rumo a Itaoca. O centro de Guarapari estava bem cheio e vencê-lo foi demorado.
Não estava a ventania do primeiro dia e a viagem foi bem mais tranquila. Pudemos aproveitar bem as paisagens ao longo do caminho. Belas praias, vegetação e relevo muito diferentes dos vistos na nossa região mineira. Já que viajaríamos novamente, marquei alguns pontos de interesse para que pudéssemos explorar. Paramos em um deles, o IPCMAR, na cidade de Anchieta. Trata-se de um instituto de preservação com foco nas tartarugas marinhas. Fomos muito bem recebidos por um jovem guia, que nos contou (e mostrou) muitas coisas interessantes sobre as tartarugas marinhas. Não estava na época de atividade nos ninhos dos animais e a sede também não possuía animais vivos, contudo, havia muita informação disponível, animais preservados e maquetes, contando um pouco de interessantes aspectos da vida marinha. Vale a pena a visita!
Rodamos até Itaoca e procuramos a pousada onde o Tio Célio se hospedou. Encontramos o lugar, mas ele não estava lá. Com indicações de um senhor, seguimos para a praia e o encontramos. Estava bem e aproveitando a praia. Que ótimo.
Voltamos para a pousada, onde pudemos ver com calma os danos na Transalp e conversar bastante. Tio Célio nos disse que confirmou com um guincho de Juiz de Fora e que iria embora no dia seguinte, quarta-feira. Não era o desfecho que queríamos, mas foi muito bom vê-lo bem e curtindo a praia. Não dá para ficar se lamentando pelo que aconteceu. Viagem é isso. Viagem de motocicleta, mais ainda. Depois de um bom papo, nos despedimos e voltamos para Guarapari, onde aproveitamos o restante do dia.
DIA 4 - QUARTA-FEIRA
Na quarta-feira resolvemos pegar a moto para irmos à Praia de Santa Mônica. É uma praia geralmente com águas mais calmas e também menos badalada do que a Praia do Morro, onde estávamos. Como não sabíamos se haveria alguém por lá, preparamos uma cesta térmica com alguma coisa para comer e beber. Levamos também uma caixinha de som emprestada pelo meu pai, ótima, por sinal.
Ao chegarmos a Santa Mônica, procurei pelo acesso à praia (contrariamente ao que acontece na Praia do Morro, não há rua ao longo da orla, mas sim, vias de acesso) no local onde geralmente passava minhas férias em família na infância. Encontramos o local, com um bar chamado Ali Babá, kkkk. Estava bem mais vazio, mas não deserto. E o bar estava funcionando! E mais: tocando um ótimo som, com repertório todo da década de 80! Nem ligamos a caixinha de som. Minha lindinha adorou a praia e eu também pude lembrar como é um lugar interessante, com uma faixa de areia com pouquíssima inclinação. Dá para entrar praticamente mar adentro, kkk. E as ondas vêm quebrando longe, percorrendo um longo percurso, perfeito para pegar jacarés.
Depois de um ótimo dia de praia, retornamos, almoçamos e descansamos no restante da tarde. No início da noite, resolvemos ir ao centro de Guarapari para visitarmos algumas feiras e as praias badaladas de lá. Foi interessantíssimo poder subir uma ladeira, após visitarmos a feira de artesanatos do centro, e nos depararmos com duas igrejas antigas: as ruínas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e a antiga Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de 1585! Ótimos pontos para fotos, repletos de história!
No final do dia, recebemos mensagem do Tio Célio informando que já estava em Juiz de Fora. Tudo certo.
DIA 5 - QUINTA-FEIRA


Mais uma vez retornamos, almoçamos e aproveitamos uma tarde tranquila nas redondezas do apartamento, que possuem um comércio muito bom. Destaque especial para uma sorveteria nova administrada por um casal de mineiros, muito simpáticos. Batemos ponto por lá em muitos dias de nossa estadia em Guarapari.
DIA 6 - SEXTA-FEIRA
O dia seguinte representava nosso último dia na praia e a véspera do retorno. Por tais motivos, resolvemos que ficaríamos ali por perto, na Praia do Morro mesmo, pela manhã, e foi exatamente o que fizemos. Foi um dia em que não nos preocupamos muito em entrar na água, mas sim curtir a companhia um do outro. Conversamos muito, o que é sempre bom para um casal que se ama e adora passar tempo junto. A cada viagem, estamos mais conectados. Já se vão praticamente cinco anos de companheirismo!
Depois do almoço habitual no nosso restaurante predileto dessa viagem, comecei os preparativos para o retorno: ajuste da suspensão da moto novamente para a grande carga, lubrificação da corrente e abastecimento prévio num posto confiável. Arrumamos tudo no apartamento e também toda a nossa bagagem. Depois de tudo arrumado, relaxamos assistindo algumas séries no Netflix com o Chromecast ligado à TV. No dia seguinte, muita estrada nos aguardava.
DIA 7 - SÁBADO
Para o retorno, acordamos às 5h. Decidimos pegar outro trajeto, saindo diretamente de Guarapari para a BR-101, evitando todas as praias (apesar de eu ter marcado em meu GPS de trilha a rota passando por Anchieta e Piúma). Outra alteração seria pegarmos a estrada de Santo Eduardo em direção a Bom Jesus do Itabapoana, atravessando maior parte do Estado do Rio de Janeiro e evitando o asfalto sulcado das obras rodoviárias de Apiacá.
Saímos com o dia fresco e rapidamente alcançamos a 101 novamente, estrada pela qual rodaríamos, neste novo percurso, cerca de 150 Km até o trevo com a ES-297. Estrada movimentada e simples, mas a viagem transcorreu de forma tranquila. Carregamos nossos comunicadores e conversamos bastante (as baterias durariam por toda a viagem de retorno).

O calor começou a apertar por aquelas bandas e, como barbacenenses, sofremos um pouco com nossas roupas de viagem. Rodando nas estradas, a temperatura ficava agradável. O problema foi vencer cidades, com trânsito lento. Por sorte, a parte central de Itaperuna estava bem tranquila e rapidamente já estávamos na estrada que leva a Muriaé.

Seguimos agora pela BR-116 até Leopoldina, onde tomamos a direção de Cataguases, Astolfo Dutra e Piraúba. Chegando em Piraúba, certo cansaço bateu, muito pelo calor que ainda fazia, apesar de estarmos sentido aquele cheirinho de Minas Gerais, kkk. Paramos novamente por lá, em um pequeno bar/lanchonete. Mais uns 15 minutos de descanso e ficamos prontos para o trecho final, que incluiria a já conhecida subida da Serra de Santa Bárbara.

Em nosso apartamento, ajeitando as coisas, custava a cair a ficha de tudo o que vivemos naqueles dias, de quantos quilômetros percorremos. Tomamos banho, descansamos e saímos à noite para comemorar, comendo um delicioso hambúrguer artesanal no Morada. Ótima forma de celebrar e nos sentir novamente em casa!