
Então, voltando ao achado: Dores do Paraibuna. Simplesmente fiquei intrigado com a foto de uma grande igreja abandonada, cercada de água do que parecia ser uma represa. Pesquisando um pouco na internet, descobri tratar-se de um distrito de Santos Dumont que fora completamente alagado quando da construção da represa de Chapéu D'Uvas, que abastece, entre outras localidades, a cidade de Juiz de Fora. Ou melhor, não completamente alagado. Situada, como a maioria das igrejas antigas, em um ponto alto do antigo distrito, o templo não foi completamente tomado pelas águas, ficando simplesmente ilhado durante boa parte do ano. A construção da represa foi acompanhada pelo deslocamento do distrito para uma área situada a nordeste, onde foi construída a Nova Dores do Paraibuna. A velha igreja em ruínas, contudo, teima em resistir à ação do tempo.

Mas, seguindo nossa decisão de fazer viagens rápidas nas tardes de sexta-feira, eis que finalmente coloquei da rota de Dores do Paraibuna no GPS. Como de praxe, preparamos as coisas, cumprimos nossos horários de estágio, almoçamos e colocamos o pé na estrada. É realmente um lugar perto para nós, principalmente se considerarmos que boa parte do trajeto é feito na nossa velha e conhecida BR-040, num trecho ótimo, duplicado e que conheço a vida toda. Chegando no trevo de Santos Dumont, tomamos o rumo da estrada para a Fazenda de Cabangu, que já fomos num passeio um tanto quanto desastrado, kkkk. Dessa estrada, pega-se um retorno para a cidade de Santos Dumont num segundo trevo, tomando uma saída à direita da estrada quando próximo a um radar. Daí, passamos pelo que parece ser um bairro mais distante da cidade, com uma passagem por debaixo da linha férrea e em seguida, é terra até o distrito de Dores do Paraibuna.
A estrada estava relativamente boa, porém com muito, muito cascalho. Considerando que tinha muitas subidas e descidas, é um trajeto que exige atenção na moto. Fomos bem devagar, pois, depois de alguns quilômetros, a estrada ficou também esburacada. A passagem de alguns veículos nos dois sentidos levantava bastante poeira por conta do clima seco e com bastante calor.
Chegando ao distrito (o novo), vimos um lugar um tanto quanto abandonado. Nos lembrou a visita que fizemos ao distrito de Padre Brito, em Barbacena. Numa sexta-feira, tudo parado e com ares de decadência. Talvez o pequeno distrito não tenha, de fato, se adaptado bem à mudança forçada pela criação da represa. Casas certamente novas (a represa foi criada na década de 1980), porém mal conservadas. Algumas pessoas nas ruas nos observando e algumas casas semi abandonadas com pessoas em atitudes suspeitas. Prosseguimos. A estrada piorou muito. Agora as subidas e descidas, além de buracos, tinham grandes partes com crateras e sulcos provocados pela erosão. Minha lindinha chegou mesmo a ficar com medo em uma descida. Seguimos com cuidado, mas sem maiores percalços. Muitas subidas e descidas depois, avistamos o braço do lago da represa e, pouco mais à frente, as ruínas da igreja. No trajeto final, não tão sinistro como partes do novo distrito, avistamos carros parados e pessoas nas margens da represa. Certamente pescadores. A vista foi ficando cada vez mais bonita.
Para chegarmos à igreja velha, precisaríamos sair da estrada e descer até a margem. Eu havia mapeado o trajeto até o ponto em que se inicia a descida, sem ter certeza das condições da estrada/trilha dali para frente. Do alto da estrada, avistando a igreja, percebemos uma movimentação de uma moto no seu entorno. Percebi que era uma moto comum, de cidade (talvez uma Fazer), e aí percebi que poderíamos descer realmente. Achamos a entrada da trilha e descemos. Cruzamos com a tal moto, que levava também duas pessoas. Beleza. Mas a trilha era sofrível: estreita, repleta de pedras, fechada e com muita erosão. Não deve haver muito movimento por ali. Descendo com bastante cuidado, pois estávamos carregados com baús e tal, chegamos, finalmente, à igreja, que surgiu imponente à nossa frente assim que saímos da mata.
O lugar impressiona. Uma igreja grande, abandonada no meio do nada. É estranho pensar que tudo aquilo foi ativo e que existia uma comunidade ao seu redor. A represa não estava tão cheia, pois do contrário nem chegaríamos ao lugar. Dava para ver as marcas da água nos pilares da ponte próxima e que dá acesso ao antigo distrito. Chegando próximo à margem, é possível ver lajes e paredes dos antes eram casas, lojas, construções. Ao longe, percebi numa colina um cemitério, não inundado. Impossível saber se estava ativo ou não. Dentro da igreja, sinais de pessoas, vestígios de fogueiras e algum lixo deixado para trás. Também não dá para ter nem ideia do tipo de gente que quer passar uma noite num lugar como aquele. Andarilhos? Jovens atrás de alguma aventura doida num lugar em que não há nada para fazer? Usuários de drogas? Pescadores noturnos? Apenas suposições. Dentro do templo havia, num canto uma imagem dentro de um pequeno oratório. Restos de velas. Pela conservação daquilo dentro de tanta destruição, pareceu-me que moradores locais mantêm, por fé, aquele lugar de culto. Realmente, vi algumas fotos na internet do que parecia ser uma grande encontro de fiéis católicos naquela igreja, mesmo desativada. De qualquer forma, para um lugar tão ermo, há movimentação. Aproveitamos para tirar muitas fotos. O visual é incrível.

A volta foi tranquila, seguindo o programado, só que agora eu sabia de antemão tudo o que estava à frente. Passamos pelo novo distrito, dessa vez ainda mais deserto, exceto pela presença de muitos cavalos magros e soltos. Ao chegarmos no asfalto, prosseguimos até a Leiteria São Luiz, às margens da 040 para uma paradinha. Se chovesse ali, não haveria problema. Estrada boa e conhecida. Tomamos uns sucos que levamos e descansamos um pouco sentados do lado de fora mesmo (lá na ruína da igreja, nem havia lugar muito bom para sentarmos). Dali, foi só pegar aquele estradão de volta. Sempre bom também. A estrada estava com trânsito normal, nem vazia e nem lotada, e chegamos no tempo esperado em casa para um merecido descanso depois de mais este passeio/aventura. Quantos lugares interessantes nos rodeiam e nem fazemos ideia, não é mesmo? Já com os olhos na nossa próxima viagem!