Fazia tempo que eu queria muito retornar à estrada de Campolide, tomando o rumo sul.
A última vez em que havíamos passado por lá, ainda estava com a Bros e nos aventuramos passando por Santa Rita de Ibitipoca até chegarmos a Conceição do Ibitipoca, na entrada do parque estadual. Muita terra, muito cascalho e muitas subidas e descidas. No entanto, a MG-338 segue seu caminho depois do trevo que dá acesso a Santana do Garambéu (outra cidade que nunca visitamos) e Santa Rita do Ibitipoca. Passa por Piedade do Rio Grande e chega em Madre de Deus de Minas, onde se encontra com a BR-383. Pois então... Esta era a rota prevista, com destino em Madre de Deus de Minas e retorno pela própria BR-383 e pela BR-265, passando por São João del-Rei. Um circuito, portanto, com cerca de 200 Km de extensão.
Saímos ainda pela manhã, por volta das 9h, depois de preparar tudo, abastecer a Ténéré e calibrar os pneus para uma estrada não muito boa. Sabia que o trecho da MG-338 entre o trevo para Santana e Piedade era de terra. Tudo pronto, pé na estrada.
A estrada de Campolide é uma velha conhecida. Asfaltada, mas simples e estreita, com alguns radares na primeira parte. Depois do distrito, até a cidade de Ibertioga, predomina seu traçado por lugares altos, evitando os vales. Isso nos dá uma visão muito bonita da região, com destaque para a Serra de Ibitipoca, que crescia à nossa esquerda à medida em que nos dirigíamos para o sul. Com uma descida respeitável até Ibertioga (daquelas de dar pressão no ouvido), atravessamos a cidade e prosseguimos. Como previsto, até o trevo de Santana, asfalto e o mesmo estilo de estrada, pelo alto, com visões de fazendas com casas grandes e pequenas; a Serra de Ibitipoca se distanciando conforme passávamos ao largo. Após o tal trevo, terra... E uma terra seca, praticamente sem poeira, mas extremamente dura, principalmente no início, colocando à prova a ótima suspensão da Ténéré, já que estávamos até que bem carregados, com baús laterais e tudo. Como não estávamos com pressa alguma, seguimos bem devagar, curtindo a paisagem. Os solavancos acabaram por aumentar a vontade de fazer xixi que vinha me batendo e, num lugar alto e com uma boa vista dos morros e serras, demos uma paradinha numa reta larga e com sombra, onde aproveitei para me aliviar. Depois dessa parte, a estrada ficou mais sinuosa, embora tenha melhorado um pouco o piso, menos duro. Subidas e decidas mais íngremes e curvas mais apertadas até chegarmos em Piedade do Rio Grande.

Que chegada diferente! A cidade é bem no alto de um morro e uma reta com uma descida muito forte e uma subida também de respeito (aqui na região chamamos isso de bate-cova, kkk) nos levaram ao pequeno centro onde paramos para descansar um pouco e apreciar o lugar. Estacionamos em frente à igreja principal, em que se realizava uma missa, e sentamos num banco da praça. Minha lindinha estava com um pouco de fome, então peguei uns biscoitos e a água que havíamos trazido num dos baús. Algumas fotos, um sol já bem quente, pois a hora ia passando, e, em pouco tempo, já estávamos pegando a estrada de novo.

Este trecho seguinte da MG-338 é bem diferente. Igualmente bonito e simples é, porém, bem asfaltado. E a paisagem passa a conter grandes fazendas, daquelas com silos enormes, similares aos que encontramos às margens da BR-265 depois de São João (pudemos ter essa visão
quando fomos a Carrancas). Como o dia estava ideal, fresco e com céu de brigadeiro, a viagem foi perfeita. Avistamos a cidade de Madre de Deus de Minas ao longe e, em pouco tempo, chegamos.
Também no alto de uma pequena colina, Madre de Deus é uma cidade pequena e muito bonita. Bem cuidada. Estava bem vazia e parada, como muitas cidades do interior por que passamos. Acaba que os locais estranham quando nos veem, paramentados para viagem e tal... kkkk. Mas faz parte, é normal. E, nessas andanças por pequenas cidadezinhas, sempre fomos muito bem acolhidos. Ali não seria diferente. Procuramos de cara os restaurantes disponíveis e vimos umas três ou quatro opções. A fome já ia batendo. Paramos, como sempre, na praça principal em frente à igreja matriz, para descansar e nos localizar. Curtimos tudo até ali: cada curva da estrada, as paradas, os trechos em que dava para andar mais, os lugarejos. O barato de andar de moto realmente não está somente na chegada ao destino. Nada mais verdadeiro do que esta impressão.

Tiramos fotos na praça e na igreja principal e seguimos para uma outra praça próxima, na qual eu sabia haver uma igrejinha pequena, muito bonita, singela e histórica. Vamos sempre conversando enquanto andamos, trocando impressões acerca dos lugares e tirando muitas fotos. A pequena igreja era, realmente, muito bela. Estava toda preservada e pintada. Em frente, na praça, havia um coreto que servia também como mirante de uma ótima vista da própria cidade e dos campos ao redor. Ficamos por lá um bom tempo.

Voltando da igreja e do coreto, passamos em frente a um pequeno restaurante. Um restaurante que eu nem havia visto em minhas pesquisas preliminares (aquelas que sempre faço antes de ir a um lugar, kkk). Observando de fora o lugar, vi cadeiras de madeira limpas e organizadas num ambiente simples, mas muito bem apresentado. Entrando, encontrei a dona/cozinheira e o cheirinho de comida caseira já invadia o ar, apesar de ainda estar cedo (mais ou menos 11h20min). Conversei um pouco e a senhora apresentou os pratos. Não tinha tanta variedade, como era de se esperar (arroz, feijoada, feijão, angu, frango com quiabo, macarronada, salada e mais umas coisas). Mas o cheiro, nossa. De feijão fresquinho, quentinho com bastante louro; arroz soltinho... Se dúvidas iríamos almoçar lá! Meu amor concordou e foi ótimo! Que comida caseira... Uma hospitalidade e confiança que apenas se encontra em cidades pequenas. Os donos deixava o lugar o tempo todo em seus afazeres e os poucos clientes almoçavam tranquilos. Quando terminamos, perguntei se poderia pagar com cartão de débito (já que havia indicações e uma máquina de cartão no pequeno balcão). A dona disse que a máquina não estava funcionando, mas que não nos preocupássemos, pois poderíamos pagar na próxima vez, kkkk. Tivemos que explicar que não éramos dali e pagamos em dinheiro e muito satisfeitos a velha senhora. Nos despedimos, voltando para a praça em que a moto estava estacionada e iniciamos nossa jornada de retorno.

A outra estrada que pegamos para voltar, a BR-383, é uma estrada melhor do que a MG-338. Simples, porém muito melhor. Mais movimentada também. Varia grandes subidas e descidas, passando às vezes por conjuntos de morros bem altos com vistas amplas e às vezes por profundos vales. À esquerda, à distância, pudemos ver a linda Serra de Carrancas, e uma saudade bateu também daquela viagem incrível que fizemos por aqueles lados. Em pouco tempo, chegamos à interseção com a BR-265 e seguimos à leste para São João del-Rei. No contorno da cidade, ainda à beira da estrada, fizemos nossa última parada. Onde? No Legítimo Rocambole... kkkk. Aquele mesmo de
nossa primeira viagem a Lagoa Dourada e também da
segunda e recente vez em que lá estivemos. Mais rocambole! Delicioso, como sempre. Eu não tinha certeza de que seria o mesmo, ali em São João, mas minha lindinha tinha! Melhor para nós. Descansamos, comemos, conversamos e seguimos nossa viagem.
De São João a Barbacena, a conhecida BR-265 e um trânsito mais intenso. Mas como o dia continuava lindo, a viagem foi ótima. Chegamos ainda cedo em Barbacena, todavia nosso propósito havia sido cumprido: novas estradas, novos trajetos, novas cidades e muitos quilômetros sobre rodas. Em casa, depois de um banho, descansamos juntos e satisfeitos, repletos de mais impressões e lembranças de novos lugares.