Durante os preparativos, na véspera, o Pedro me informou que mais uma moto deveria ir com a gente. Era a Gil, mãe do Pedro e o Dimitri, namorado dela, que também tem uma Ténéré. Sem problemas, tudo certo.

No dia, encontramos no posto para abastecer as motos, fomos todos apresentados e seguimos para o passeio. Inicialmente, tomamos o rumo de Sá Fortes, na estrada para Antônio Carlos. Pouco depois do aeroporto, senti que um inseto bateu violentamente no meu pescoço (a gola da jaqueta estava baixa, pois estava quente), seguindo a uma ardência, mas nada que fosse motivo para parar. Seguimos. Depois de Sá Fortes, o trajeto era de terra, pela antiga Estrada União Indústria, a qual, mais à frente se entroncaria e coincidiria com a Estrada Real. Belas paisagens, alternando campos e fazendas antigas.
A primeira parada se deu num lugarejo cuja placa denominava Campo Verde, em frente a uma bela capela antiga, que mais tarde vir a saber se tratar da Capela de Nossa Senhora da Glória. Lugar lindo, bucólico. Todos gostaram e posaram para fotos. Lá, eu e a minha linda descobrimos que o inseto de antes era possivelmente uma abelha ou algo do gênero, pois havia um ferrão. Apesar do incômodo ao retirá-lo, tudo certo, iríamos em frente.

A estrada foi ficando cada vez mais simples, com trechos de calçamento do tempo da União e Indústria. Piso ruim e acidentado, com uma mata cada vez mais fechada. Em pouco tempo alcançamos a descida da serra. Incrível, com uma vista perfeita. Mais à frente, outra parada, num antigo chafariz destinado aos viajantes de outrora. Tiramos mais fotos aproveitando o visual, as antigas ruínas e o marco da Estrada Real.
A partir daí havia dois caminhos. Eu mapeara, em realidade, três: o primeiro, todo de asfalto pela 040 (pensado para o retorno), o segundo, mesclando a União Indústria e a Estrada Real, saindo na 040 e um todo pela Estrada Real, o qual seria mais
trash e desconhecido. Expliquei as alternativas para o Pedro e para o Dimitri. Eles se empolgaram pela opção da ER pura e eu concordei, mas ressaltando que não conhecia e tal. Uma coisa é mapear por fotos de satélite, outra é a realidade. Lá fomos nós.

Percorremos todo o trecho que eu já conhecia e viramos numa bifurcação ostentando o marco identificador. O terreno ficou bem acidentado e estranhamente voltamos a subir. Eu sabia que essa rota era curta, na verdade um atalho até Cabangu. Mas, depois de subir um bocado, naturalmente viria uma descida... E das boas. Eu e a Rochelli fomos na frente, pois estávamos com a rota mapeada e começamos a descer com cuidado. Muita pedra solta e cascalho na descida íngreme, e a Brosinha valente. Pelo pouco que conheço de estradas de terra, o problema da descida é o freio: tem de se evitar o dianteiro; parar, é praticamente impossível, dependendo da descida, ainda mais com garupa. De repente, ouvimos um barulho e o Pedro, que fechava a fila, buzinando. O Dimitri e a Gil tinham caído! Era preciso parar e rápido... Tentei ir diminuindo para uma parada no mato à beira da estrada, mas a urgência da parada se revelou fatal... Instintivamente usei um pouco de freio dianteiro. Conclusão: uma saída de frente e chão... Não deu tempo de nada. Fiquei preocupado inicialmente com a Rochelli e de cara fui levantando. Para minha surpresa, ela estava rindo muito, segurando no alto a câmera fotográfica. Ajudei-a levantar e fui direto no Dimitri e na Gil. Os dois estavam se levantando, ele muito bravo, pois sua moto tinha escorregado de lado, arranhando a lateral na descida. Felizmente, todos bem. Só depois fui ver a Bros, caída. Nenhum dano maior, mas estava vazando combustível. Corri e com ajuda a levantamos (mais tarde, na estrada, vi uns leves empenos - caixa de ferramentas e alinhamento do garfo). Mas nada de arranhões, afinal, caímos praticamente parados. Depois do susto, ficamos sem saber se prosseguíamos por esse trajeto e a decisão final foi voltar ao percurso conhecido, mesmo tendo de subir essa ladeira em que havíamos caído. De moto, para cima, todo santo ajuda, kkk. Voltamos, pegamos a União Indústria e, posteriormente a 040 rumo ao acesso de Cabangu, já no trevo de Santos Dumont.
Paramos para almoçar na tradicional Leiteria São Luís. Nunca havia almoçado lá e, imaginando o tamanho dos pratos feitos pelo preço e por ser uma parada de estrada, eu e a Rochelli preferimos comer sanduíches, o que caiu bem.

Saindo da leiteria, percorremos o belo caminho que faz o acesso a antiga fazenda de Cabangu, paramos nossas motos na entrada (não é permitido entrar com veículos - uma bobagem - pelas regras dos militares que controlam o amplo lugar). Doloridos e cansados buscamos algum refazimento nos bancos da varanda da antiga sede da fazenda. Estávamos com dores nos pés e canelas esquerdos, por causa do tombo. Mas, rindo de toda a situação. Todos os outros descansaram e curtiram o local. Até o Dimitri, que estava mais calmo.
A fazenda, agora mais um parque, é linda. Passeamos pelo lugar e tiramos muitas fotos. Visitamos os pequenos museus e admiramos toda a paisagem. Seria um lugar perfeito para um piquenique não fosse pelas restrições de acesso e toda a questão militar. Uma pena.
Passadas algumas horas, decidimos retornar, agora, na segurança do piso impecável da 040 (que nos custaria um pedágio, kkk). A viagem foi tranquila e igualmente bonita. Nos despedimos na chegada de Barbacena e fomos para casa. Um bom descanso (e talvez alguns analgésicos) nos aguardavam. Inesquecível essa viagem, como bem são as de motocicleta: marcantes em todos os aspectos, bons ou ruins, pois, no fundo, tudo é aventura, tudo é como estar mais e mais vivo.