Já havia um bom tempo em que eu queria visitar a pequena cidade de Moeda, em meio à região mineradora do quadrilátero ferrífero, mas (ainda) não diretamente afetada pelas escavações que desfiguram a nossa região. Assim como a cidade de Belo Vale, está à oeste da belíssima Serra da Moeda, que se estende como um verdadeiro paredão de norte a sul, a partir de Belo Horizonte por quilômetros até Congonhas e Jeceaba.
A história pelo interesse é antiga e familiar. Meu pai, ferroviário, tinha um quadro muito bonito da época em que trabalhava, com um retrato da estação de Moeda totalmente cercada de gelo. Há muitos anos, uma fortíssima chuva de granizo transformou completamente a paisagem, deixando a pequena cidade, normalmente quente, pois que ao pé da serra, com um ar completamente distinto. Parecia um lugar... polar. Aquele quadro sempre me intrigou. Mais velho e com uma melhor noção da geografia e da região, Moeda sempre figurou ali nos mapas, como um destino interessante. Diferentemente de Belo Vale, que eu cheguei a visitar de carro com meu pai (e vi uma das estradas de serra mais impressionantes da minha vida) e voltei depois de moto, nunca havia ido a Moeda. Já era chegada a hora...
Saí logo pela manhã de sábado com, pegando a BR-040 rumo a Ressaquinha, Carandaí e Conselheiro Lafaiete. A Rochelli não poderia ir pois este sábado era dia do seu plantão, naquela escala interminável de dia sim, dia não. O dia estava incrível: céu completamente azul, temperatura amena e uma visibilidade absurda... Limpo até a linha do horizonte. Se a ideia era visitar uma região serrana e olhar lá do alto, não poderia ter tempo mais perfeito. Uma trégua desse monte de dias com queimadas que temos assistido.
Um pouco depois de Carandaí, fiz uma breve parada para um café no tradicional Carroção. Uns poucos minutos mesmo e segui viagem. Passei por Lafaiete, agora já isento de pedágio (Uhull!) e segui para a região intensa de mineração, além de Congonhas. Passei o trevo para a linda e perigosa estrada de Belo Vale e prossegui ainda, na 040, passando pelo novo viaduto que substituiu o antigo Viaduto das Almas (ainda possível de ser visto, ao longe) e pela região do Mirante da Serra. Não parei no Mirante, que sempre foi uma boa lanchonete/restaurante, mas uma triste observação: ao passar pela estrada, olhei ao longe e não pude ver mais aquelas paisagens bonitas de antes. Acho que o estabelecimento em breve vai ter de alterar seu nome para Mirante da Mineração, pois a serra realmente está sumindo. Sem exagero... Só era possível ver morros recortados, quadrados mesmo, nas adjacências e um grande vale marrom lá embaixo. Serra, serra mesmo, somente ao longe, com o Pico de Itabirito resistindo solenemente.
Bem, ao passar a segunda praça de pedágio da nova concessionária EPR (novamente de graça - Uhull!), sabia que o trevo de acesso a Moeda era logo depois. Mas, devido a algumas obras de readequação do trevo, tive de seguir mais adiante e fazer o próximo retorno para finalmente pegar a estrada da Serra. O traçado sobe, sobe, sobe até um ponto em que muitos saltam de parapente e corta a grande serra, arbindo a visão para o oeste além do paredão de pedra. Aí a visão é absurda: fazendas e cidadezinhas lá em baixo. Muito mais alto do que as subidas e descidas da Mantiqueira na região de Barbacena. Tive que parar no primeiro mirante que encontrei. Fascinante.
A descida não é tão perigosa. Apesar de muito íngrime, a estrada é cercada por rochas e vegetação. Nem dá para se ter ideia de que ao lado há um verdadeiro abismo. Tudo muito bonito e mesmo após a conclusão da parte mais íngreme, ainda se percorre um bom trecho serrano, com estrada simples e curvas fechadas até a chegada em Moeda.
Moeda é uma cidade bem pequena, mas parece ter dinheiro rodando. Talvez seja o pessoal de Belo Horizonte buscando um refúgio mais bucólico ou de aventura, não sei. Uma nova Lavras Novas? Cheguei, visitei algumas praças e a igreja principal, sendo reformada. Parei na estação das minhas lembranças e pude tirar muitas fotos, finalmente visitando o local. Está bem conservada. Não perfeita, mas melhor do que a maioria das velhas estações da Linha do Centro.
Dali, busquei um restaurante que havia encontrado em minhas pesquisas de véspera. Depois de errar uma rua de acesso, encontrei a entrada para o belo e aconchegante Restaurante Trem. Tão bonito que achei de cara que não fosse um lugar para um pobre professor viajante de moto. Fui informado do valor fixo por pessoa, self service sem balança, em torno de R$65, mas também com alguns pratos individuais bem em conta, acho que a partir de R$23. Bem legal. Resolvi almoçar logo apesar do horário cedo (por volta das 11h30min). Um delicioso risoto mineiro acompanhado de suco natural. Uma delícia. Além de uma ótima refeição, pude descansar, esticar as pernas e curtir o local por um bom tempo.
Satisfeito e renovado, agora era pensar no retorno. Minha ideia inicial seria explorar a estrada entre Moeda e Belo Vale e retornar à 040 a partir dessa última, naquela estrada que me espanta tanto pela beleza quanto pelo medo (morro de medo de altura!). Saí do restaurante e peguei a minha rota programada para Belo Vale. A estrada muito simples e bonita, vai percorrendo o vale próximo à Serra da Moeda, formado pelo Rio Paraopeba, e acompanhando também a ferrovia. Atravessei uma pequena comunidade chamada Porto Alegre, com uma pequena e bem conservada igreja fronteada por um cruzeiro. Depois de alguns quilômetros percorridos, acabou-se o asfalto. A estrada, contudo continuava bem larga e tinha uma boa mistura de terra batida e pedras, sem problemas. Segui.
A coisa começou a piorar nas subidas e descidas, as quais, seja pela ação das chuvas ou mesmo pelo tráfego de caminhões, ficaram sem pedras e com uma terra revolvida. Em resumo, montes e montes de um pó laranja e fino. Algumas partes estavam tão fofas que parecia que a Ténéré iria atolar . Cheguei a parar em uma subida, colocar os pés no chão e arrancar novamente. Pensei mesmo até em desistir, voltando a Moeda e fazendo o retorno pelo mesmo caminho de onde vim da 040 e de Barbacena. Mas Belo Vale é tão perto... E retornar descendo pela formidável subida fofa não era uma opção lá muito agradável de se imaginar... Segui. Muitas subidas e descidas estavam ruins (não tanto quanto a primeira, mas ainda assim, desafiadoras). E o poeirão subindo, na medida em que passava. Quando alcancei a divisa dos municípios de Moeda e Belo Vale, a placa mesmo... Asfalto de novo. E resto de percurso tranquilo a partir dali.
Passei por Belo Vale de forma breve. É uma cidade muito interessante e ainda voltarei para fica um tempinho por lá. Não parece ter tantos recursos quanto Moeda. Mas ainda assim tem pontos muito legais para visitar. Dei uma pequena paradinha na Igreja Matriz para descansar um pouco das aventuras na estrada de chão e tirar uma fotos.
Saindo de Belo Vale, sabia que me esperava a grande e vertiginosa subida da Serra da Moeda, com curvas em ferradura e os abismos colados à via. Fui tranquilo e em pouco tempo estava já subindo o paredão. Estranha a sensação de ao mesmo tempo querer e não querer olhar para o lado além do guard rail. Impossível parar ali para tirar fotos. A estrada é muito estreita e perigosa. No entanto, mais acima, na entrada de uma mineradora, consegui dar uma paradinha e tirar algumas fotos. A Ténéré laranja na frente da imsensidão. Muito legal! Mas as vistas não acabavam ali. Depois de um ponto de máxima altitude na travessia da serra, começa a descida e, lá do alto é possível ver a serra de Ouro Branco, Congonha e Lafaiete ao mesmo tempo! Incrível! Pelos mapas, chega-se a 1500 m de altitude.
Encontrei novamente a 040 e segui de volta pelas vias encardidas de minério até Congonhas. No retorno por Lafaiete, ainda fiz uma breve parada para um café no Trevão. Meio caro pelo que pedi, mas tudo bem. O tempo continuou bom no retorno, mas a visibilidade foi gradualmente piorando... Infelizmente voltavam as queimadas.
Em pouco tempo, já estava novamente em casa e nem fiquei cansado. Esse negócio de viajar é um perigo mesmo. A gente vai gostando e se acostumando. E a região vai realmente ficando menor a cada dia. Mas nosso olhar vai se alargando, para além dos morros, além das serras. Não sabemos onde parar.
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